Morrendo de Medo

O mais urbano em uma cidade são os espaços públicos qualificados, agradáveis e, principalmente,  seguros. 

 

A essência do espaço público é a rua, e rua que dá medo é rua que não dá. O medo tem sido uma doença desfigurativa no desenho das nossas cidades, um garrote asfixiando os espaços públicos, uma um assassino em série matando as possibilidades. O medo ergue muros, tranca portas e aprisiona os homens de bem. Crianças não brincam na rua, vizinhos não conversam nas calçadas, namorados não se beijam nos portões e comerciantes não abrem suas portas. As calçadas vazias sem “flâneurs” nem pedestres apressados, sem crianças correndo nem velhos lentos, sentados calados em suas lembranças, sem ninguém mais. 

 

A cidade morre de medo, com medo de morrer. A rua, assaltada, espancada e violentada, perde o caminho e vira passagem. Os bandidos levaram tudo: o passeio, a civilidade e a perspectiva urbana. E a rua ficou lá, estendida, sem que ninguém parasse para salvá-la, todos apressados em chegar logo a segurança murada de suas prisões. 

 

Medo não protege, medo mata. Se o crime mata o cidadão, o medo mata a urbanidade, esgarça o tecido urbano, destroça a cidade. Os muros não são frutos da segregação de alguns, são o medo de todos. E mesmo que o medo seja irreal, exagerado e neurótico, é sempre um medo paralisante, como revólver apontado ao coração de um pai de família.

 

Coragem é virtude dos homens, não das cidades. Estas precisam ser, e parecer ser, seguras. A pergunta que fica é como fazê-las seguras. Com a resposta, posso falar sem medo, que então faremos cidades para pessoas.